Morreu hoje Mário Soares, aos 92 anos de idade. O histórico do PS estava internado no Hospital da Cruz Vermelha desde o dia 13.
Mário Alberto Nobre Lopes Soares nasceu em Lisboa a 7 de Dezembro de 1924, tendo falecido, hoje, dia 7 de janeiro de 2017.
Político de profissão e vocação, co-fundador do Partido Socialista, a 19 de abril de 1973, o percurso de Mário Soares inicia-se nos grupos de oposição ao Estado Novo, atividades que levariam o governo de Salazar a deportá-lo para São Tomé, onde permaneceu até o governo de Marcello Caetano lhe permitir o exílio em França.
No processo de transição democrática subsequente ao 25 de abril de 1974 afirma-se como líder partidário no campo democrático, sendo ainda Ministro de alguns dos governos provisórios. Em seguida foi Primeiro-Ministro dos I, II e IX governos constitucionais, acompanhando o processo de construção de políticas sociais pré-adesão às Comunidades Europeias.
Foi Presidente da República durante dois mandatos, entre 1986 e 1996.
Mário Soares licenciou-se em Ciências Histórico-Filosóficas, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, em 1951, e em Direito, na Faculdade de Direito da mesma universidade, em 1957.
Foi advogado e professor do ensino secundário particular, chegando a dirigir o Colégio Moderno, fundado pelo pai, e no qual lhe sucederam a sua mulher, Maria de Jesus Barroso Soares e, posteriormente, a sua filha, Isabel Barroso Soares, psicóloga, além de professora do colégio.
Como advogado defensor de presos políticos, participou em numerosos julgamentos, realizados no Tribunal Plenário e no Tribunal Militar Especial. Representou, nomeadamente, Álvaro Cunhal quando acusado de crimes políticos, e a família de Humberto Delgado na investigação do seu alegado assassinato. Juntamente com Adelino da Palma Carlos defendeu também a causa dinástica de Maria Pia de Saxe-Coburgo e Bragança.
Apoiado pelo pai e fortemente influenciado pelo ambiente em que cresceu, de tradição republicana e oposicionista, Mário Soares iniciou muito jovem a sua atividade política.
Por influência de Álvaro Cunhal (que chegou a ser regente de estudos no Colégio Moderno) aderiu em 1943 ao Movimento de Unidade Nacional Antifascista (MUNAF), estrutura ligada ao Partido Comunista Português, e integrou a partir de 1946 a Comissão Central do MUD – Movimento de Unidade Democrática, sob a presidência de Mário de Azevedo Gomes; tendo sido nesse âmbito co-fundador do MUD Juvenil e membro da sua primeira Comissão Central.
Em 1949 foi secretário da Comissão Central da candidatura do general Norton de Matos à Presidência da República e em 1958 pertenceu à comissão da candidatura do General Humberto Delgado à Presidência da República.
Afastado do PCP, fundou em 1955 a Resistência Republicana e Socialista, reunindo outros elementos vindos do PCP (como Fernando Piteira Santos, expulso do PCP em 1949), da União Socialista (como Manuel Mendes, antigo militante do MUD Juvenil), Gustavo Soromenho, Ramos da Costa, José Ribeiro dos Santos, Teófilo Carvalho Santos, José Magalhães Godinho, entre outros.
Foi em nome deste grupo que entrou em 1956 para o Directório Democrato-Social, a convite de Armando Adão e Silva, e de que faziam parte António Sérgio, Jaime Cortesão e Azevedo Gomes.
Foi redator e signatário do Programa para a Democratização da República, em 1961.
Candidatou-se a deputado à Assembleia Nacional do Estado Novo, nas listas da Oposição Democrática, em 1965, pela CDE, e em 1969, pela CEUD.
Preso 12 vezes, cumprindo um total de cerca de três anos de cadeia, foi deportado sem julgamento para a ilha de São Tomé, em 1968, até o governo de Marcello Caetano lhe permitir o exílio em França, em 1970.
Aquando do seu exílio em França, em 1970, foi chargé de cours nas universidades de Paris VIII (Vincennes) e Paris IV (Sorbonne), e igualmente professor convidado na Faculdade de Letras da Universidade da Alta Bretanha, em Rennes, que lhe atribuiu o grau de Doutor Honoris Causa.
Estando ainda aí, em 1972, foi à loja à loja maçónica parisiense “Les Compagnons Ardents”, da “Grande Loge de France”, pedir apoio para a luta política contra o Estado Novo e ingressou na maçonaria, segundo ele próprio, optando depois por ficar “adormecido”.
A 28 de Abril de 1974, três dias depois da Revolução de 25 de Abril, regressou do exílio em Paris, no chamado “Comboio da Liberdade”. Dois dias depois, esteve presente na chegada a Lisboa de Álvaro Cunhal. Ainda que tivessem ideias políticas diferentes, subiram de braços dados, pela primeira e última vez, as ruas da Baixa Pombalina e a avenida da Liberdade.
Durante o período revolucionário que ficou conhecido como PREC foi o principal líder civil do campo democrático, tendo conduzido o Partido Socialista à vitória nas eleições para a Assembleia Constituinte de 1975.
Foi ministro dos Negócios Estrangeiros, de Maio de 1974 a Março de 1975, e um dos impulsionadores da independência das colónias portuguesas, tendo sido responsável por parte desse processo.
A partir de Março de 1977 colaborou no processo de adesão de Portugal à Comunidade Económica Europeia (CEE), vindo a subscrever, como primeiro-ministro, o Tratado de Adesão, em 12 de Julho de 1985.
Foi primeiro-ministro de Portugal nos seguintes períodos:
I Governo Constitucional entre 1976 e 1977;
II Governo Constitucional em 1978;
IX Governo Constitucional entre 1983 e 1985.
Foi posteriormente Presidente da República entre 1986 e 1996 (1.º mandato de 10 de Março de 1986 a 1991, 2.º mandato de 13 de Janeiro de 1991 a 9 de Março de 1996).
O percurso político de Mário Soares depois dos dez anos de Presidência da República foram orientados para a intervenção a nível internacional.
Depois de ter assumido, em dezembro de 1995, a presidência da Comissão Mundial Independente Sobre os Oceanos, seria escolhido em setembro de 1997 para a presidência do Comité Promotor do Contrato Mundial da Água.
Também em 1997 assumiu a presidência da Fundação Portugal África — fundada pelo Banco de Fomento e Exterior (posteriormente integrado no Banco Português de Investimento) — e a presidência do Movimento Europeu Internacional, uma ONGD cuja fundação remonta ao pós-Segunda Grande Guerra e que foi impulsionadora da fundação do Conselho da Europa, em 1949.
Subsequentemente, em 1999, três anos depois de terminar o seu mandato como Presidente, Mário Soares foi o cabeça-de-lista do PS às eleições europeias de 1999. Uma vez eleito foi logo de seguida candidato a presidente do Parlamento Europeu, mas perdeu a eleição para Nicole Fontaine, a quem não teve pejo em afirmar que tinha «um discurso de dona de casa», no sentido pejorativo do termo.
Essa derrota na corrida à presidência do Parlamento Europeu acabou por retirar expetativa à ambição de Soares em desempenhar um cargo importante na política internacional.
Longe da política ativa, sem deixar de assumir como figura de maior referência do PS, Soares surpreendeu o país ao aceitar, em 2005, um regresso à disputa pelo cargo de Presidente da República. Foi assim, aos 81 anos, o segundo candidato anunciado — após Jerónimo de Sousa, candidato apoiado pelo PCP — o que seria um inédito terceiro mandato.
O motivo da sua entrada na corrida era nem mais nem menos do que impedir que José Sócrates, então secretário-geral do PS tivesse de apoiar o candidato Manuel Alegre, após algumas crispações deste histórico do PS com as hostes do seu próprio partido — de resto, Alegre havia sido adversário de Sócrates nas eleições internas do PS em 2004, representando uma corrente ideológica completamente oposta à de Sócrates.
Na eleição presidencial, realizada a 22 de Fevereiro de 2006, Soares obteve apenas o terceiro lugar, com 14% dos votos, ficando inclusive atrás da candidatura (que acabou por não ter apoio partidário) de Manuel Alegre.
As eleições foram vencidas com maioria absoluta (e, portanto, à primeira volta) por Aníbal Cavaco Silva.
Em 2007 foi nomeado presidente da Comissão de Liberdade Religiosa. Também presidiu ao Júri do Prémio Félix Houphouët-Boigny, da UNESCO, desde 2010, tendo sido patrono do International Ocean Institute, desde 2009.
No dia 11 de Outubro de 2010 recebeu o Doutoramento Honoris Causa pela Universidade de Lisboa aquando das comemorações do centenário da mesma, coincidindo com as comemorações do centenário da República Portuguesa (5 de Outubro).
Com 89 anos é eleito a personalidade do ano 2013 pela imprensa estrangeira, radicada em Portugal.
Em 25 de abril de 2016, o presidente da Câmara de Lisboa, Fernando Medina, entregou a Mário Soares a chave da cidade de Lisboa, a mais alta distinção atribuída pelo município a personalidades com relevância nacional e internacional.